Cristina Kirchner volta?



Argentina: Cristina antecipa seu retorno?




Rumores apontam que a ex-presidenta Cristina Fernández de Kirchner, que deixou o governo com cerca de 50 % de popularidade, se prepara para assumir o papel de líder da oposição contra "este regime instaurado por Mauricio Macri, cujos dois primeiros meses de governo estiveram marcados por demissões, repressão e censura. Cristina é uma grande dor de cabeça para a direita", diz Martín Sabbatella, um dos homens de confiança da ex-mandatária; possibilidade tem preocupado a direita e os grandes grupos de comunicação argentinos que não desejam ver novamente a esquerda no poder; segundo Sabbatella, tanto Cristina quanto o ex-presidente Lula são assediados pelo que ele chama de "Partido Judiciário"
14 de Fevereiro de 2016 às 12:22





Darío Pignotti, da Carta Maior - Existe preocupação hoje na direita argentina. Ha alguns dias, em Buenos Aires, os rumores correm e falam sobre um retorno (iminente?) da ex-presidenta Cristina Fernández de Kirchner, que deixou o governo com cerca de 50 % de popularidade, para assumir o papel de líder da oposição contra "este regime instaurado por Mauricio Macri, cujos dois primeiros meses de governo estiveram marcados por demissões, repressão e censura. Cristina é uma grande dor de cabeça para a direita", assegura Martín Sabbatella, um dos homens de confiança da ex-mandatária, em entrevista para Carta Maior.
 


As pesquisas mostraram que se Cristina tivesse sido candidata em 2015 – o que não foi possível, já que a Constituição impede uma segunda reeleição consecutiva – certamente teria vencido Macri, que foi eleito graças a uma estreita vantagem, no segundo turno que disputou com Daniel Scioli.

Durante o diálogo com Carta Maior, o jovem dirigente cristinista Martín Sabbatella falou do agitado cenário político argentino, iniciado em dezembro com um ato de cerca de 100 mil e militantes, reunidos na Praça de Maio (https://www.youtube.com/watch?v=Wqt9z84s7jk) para se despedir da ex-mandatária, e continuado em janeiro com outro encontro, convocado para defender a democracia midiática e denunciar a caça às bruxas contra os jornalistas que se opõem ao macrismo.

Sabbatella se tornou um dos dirigentes próximos a Cristina desde que ela o escolheu como o funcionário encarregado de liderar a batalha cotidiana contra o oligopólio midiático do Grupo Clarín, que resistiu para não aplicar a lei de democratização da comunicação.

Essa lei, também conhecida como Ley de Medios, um dos símbolos dos doze anos de kirchnerismo (governos de Néstor e Cristina), foi anulada por Macri poucos dias depois de chegar à Casa Rosada, medida tomada junto com a demissão de Sabbatella como responsável pela AFCSA (Autoridade Federal de Comunicação e Serviços Audiovisuais), entidade criada para fazer funcionar as determinações da nova legislação, o que incluía garantir que o Grupo Clarín cumprisse com a desmonopolização e se desfizesse de parte das empresas que formam sua rede tentacular de televisão aberta e a cabo.

Retorno

– Cristina antecipará seu retorno ao cenário político?
– Não posso falar por Cristina, ela é quem deve decidir quais serão seus próximos passos políticos.
Claro que ela vem observando como a situação se agravou em muito pouco tempo, ninguém esperava uma política de choque tão autoritária, tão agressiva quanto a que temos vivido desde que Macri chegou ao governo. Agora, se sua pergunta quer dizer "quando Cristina vai voltar", eu a colocaria de outra forma, porque Cristina nunca se foi, ela somente terminou seu mandato, não ocupa mais a Casa Rosada, mas ela continua estando presente.
Ela tem passado estes dias descansando na Patagônia, junto com sua família, mas se mantém em contato permanente com os companheiros, consultando, analisando, tomando decisões.
Veja bem uma curiosidade que está sucedendo hoje na Argentina, algo que tanto nós quanto a direita concordamos: todo mundo sabe que Cristina está mais forte que nunca.
Depois de ver a multidão que foi espontaneamente à Casa Rosada para se despedir dela no dia 9 de dezembro, estou seguro de que se hoje ela convocasse um ato em Buenos Aires encheria qualquer praça, e também sabemos que Macri não seria capaz de mobilizar tanta gente quanto ela.
Cristina desmente o princípio de que quando um presidente deixa o governo sua popularidade sofre um baque. Ela saiu com um índice de aprovação alto, e nisso a situação de Cristina se compara com a do ex-presidente Lula no Brasil, em 2010, quando terminou seu segundo mandato com altíssima aprovação.
Cristina é, sem dúvidas, a condutora indiscutível do movimento popular na Argentina. Se tivesse sido ela a candidata em outubro passado, tenho certeza de que venceria contra Macri.

– Então é possível que ela se apresente como candidata para um terceiro mandato em 2019.
– Dentro do movimento popular, neste momento, ninguém está discutindo ainda qual será a estratégia eleitoral para daqui a quatro anos. Tenho certeza que Cristina não está preocupada com esse tema, porque agora há outros assuntos prioritários.
Ainda assim, se tivesse que dar minha opinião pessoal, diria que gosto da ideia de que ela seja presidenta pela terceira vez, assim como milhões de argentinos também gostariam.

Cristina e Lula assediados pelo "Partido Judiciário"
Martín Sabbatella conta que tem se informado a respeito da caça promovida por setores da Justiça e dos meios grandes (que não são o mesmo que grandes meios) de comunicação brasileiros contra o ex-presidente Lula. E observa que tanto no Brasil quanto na Argentina se formaram "partidos judiciários", que operam como braços da direita para atacar os grandes líderes populares.

– A situação de Cristina e de Lula são similares?
– Cristina deixou o governo em dezembro, ainda não podemos fazer um diagnóstico completo da situação, mas não há dúvidas de que surgem muitos pontos em comum sobre como a direita ataca tanto Lula quanto Cristina.
A estratégia dos partidos de direita da Argentina, do Brasil, da América Latina, é fortalecida pelo apoio que recebem de parte dos poderes judiciários.
Os poderes judiciários dos nossos países às vezes atuam como máfias. Estamos falando de amplos setores da Justiça que foram colonizados pelas corporações, ou que temem enfrentar essas corporações econômicas e midiáticas.
A presidenta Cristina vem denunciando essa manipulação da lei com fins políticos e eleitorais há tempos. Ela definiu esse grupo de poder como o "Partido Judiciário", se trata de um partido que acossa os dirigentes populares através da perseguição, com campanhas montadas em cumplicidade com os grandes meios privados de comunicação, campanhas baseadas em mentiras repetidas até que as pessoas acabam tomando-as como verdades, com causas que são inventadas entre juízes e promotores.
Então, se pode dizer, sem querer fazer comparações automáticas ou simplistas, que se pode ver claras semelhanças entre as campanhas sujas realizadas contra Cristina e as que sofrem outros dirigentes da região, como a que ataca o ex-presidente Lula.
E então nos perguntamos: por que continuam hostilizando Cristina se acabam de ganhar uma eleição presidencial com Macri?
Porque querem destruir o legado do seu governo e do presidente Néstor Kirchner. Querem destruir seu capital político, seu capital simbólico.
A direita queria que o kirchnerismo desaparecesse no dia 10 de dezembro de 2015 (último dia de mandato de Cristina) e isso não aconteceu. Por isso seguirão hostilizando Cristina, através do "Partido Judiciário" e dos meios hegemônicos.

CONTINUA...

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