Entre
história e mito, gaúchos comemoram o Dia da Revolução Farroupilha
- 20/09/2016 08h12
- Porto Alegre
Daniel
Isaia – Correspondente da Agência Brasil
No dia 20 de setembro, milhares
de gaúchos participam dos festejos pelo Dia da Revolução Farroupilha. Por todo
o Rio Grande do Sul, a data é comemorada com desfiles, acampamentos
tradicionalistas, apresentações artísticas e outros eventos nos quaisa cultura
gaúcha é exaltada.
Os festejos remetem ao
aniversário da revolução que começou no dia 20 de setembro de 1835 e foi a mais
longa guerra separatista da história do Brasil. A resistência da proclamada
República Rio-Grandense diante do Império do Brasil, que durou quase dez anos,
é lembrada com orgulho pelos que se identificam com o gauchismo e com os
valores farroupilhas de Liberdade, Igualdade e Humanidade.
No entanto, pesquisadores da
história gaúcha afirmam que a percepção popular sobre os acontecimentos da
Guerra dos Farrapos está distorcida.
“Hoje a gente tem essa ideia de
que os farroupilhas eram abolicionistas, de que eles eram defensores de grandes
ideais. Eu acho que se as pessoas soubessem mais a respeito, elas se
desiludiriam e se afastariam um pouco das festividades”, afirmou o historiador
e jornalista Juremir Machado da Silva, autor do livro História Regional da
Infâmia: o destino dos negros farrapos e outras iniquidades brasileiras, ou
como se produzem os imaginários.
O pesquisador afirmou que a
história está longe de ser o que a tradição propagou no imaginário popular.
“Foi uma revolução de proprietários, uma revolta de fazendeiros. A população
mais pobre simplesmente foi levada ‘de roldão’. Os negros foram usados como
‘bucha de canhão’ e, depois, foram traídos”, contou.
A percepção ‘romantizada’ dos
gaúchos sobre o que foi a Guerra dos Farrapos levou Juremir a acreditar que as
pessoas comemoram muito mais um certo 'mito' da vida no campo e das tradições
gauchescas do que propriamente a história da revolução. “As pessoas precisam de
elementos que sirvem para agregar, para que elas pertençam a uma tribo e possam
vibrar em comum. Normalmente, são motivos de ordem histórica aproximativa, um
mito fundador que tem uma suposta história de grandeza e de grandes feitos”.
Por isso, apesar da visão crítica
sobre o passado farroupilha, o jornalista e historiador não acha que as comemorações
de 20 de setembro sejam reprováveis. “Elas podem até ser consideradas positivas
na medida em que as pessoas se reúnem, se sentem felizes e organizam clubes de
ajuda mútua, como são os Centros de Tradições Gaúchas (CTGs)”, avaliou Juremir,
e concluiu: “Eu não acho que a comemoração seja prejudicial. O que fica é a
questão da verdade histórica, que precisa ser amparada naquilo que os
documentos permitem dizer”.
Tradição gaúcha
Já para o presidente do Movimento
Tradicionalista Gaúcho, Nairo Callegaro, a comemoração é uma forma de resgatar
e preservar valores que estavam presentes na proclamação da República
Rio-Grandense pelo general Antônio de Souza Neto. “Ele era um dos mais
idealistas e agiu por um ideal de república, de liberdade, de garantia de direitos
à população. Pensamentos que, décadas mais tarde, foram confirmados com a
proclamação da República do Brasil”, ressaltou Callegaro.
O presidente do MTG disse, ainda,
que a celebração da Revolução Farroupilha é um evento da cultura brasileira.
“Temos orgulho de ser brasileiros. Nosso movimento não é separatista, mas de
preservação de valores culturais e artísticos, da nossa identidade regional,
dos nossos costumes”.
Para Callegaro é natural que
cidadãos de cada estado brasileiro sintam orgulho de suas tradições e desejem
mostrá-las para o resto do País. “Eu recebi cariocas há pouco, pessoas que
ficaram encantadas. Elas vêm pra cá em setembro para participar das atividades
comemorativas, e os amigos gaúchos daqui vão ao Rio em fevereiro para
aproveitar o carnaval de lá. Há uma troca de culturas”, concluiu.
Edição: Denise
Griesinger
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