Em visita
à América Latina, Obama adota tons distintos em Cuba e na Argentina
Por Max
Altman
25/03/2016
A visita de Obama a Buenos Aires
teve características absolutamente distintas da de Havana. Em Cuba, sob
aplausos gerais, confessou que os Estados Unidos cometeram erros e crimes
durante mais de meio século, sem resultado, a não ser o sacrifício do próprio
povo cubano, o que os levaram, mais recentemente, a se isolar na região dada a
solidariedade manifestada pelas nações e povos latino-americanos à Ilha.
Em Havana, Obama propôs se olhar
para o futuro. Em Buenos Aires, teve de se contorcer para explicar as razões
por quê Washington se aliou e apoiou o terrorismo de Estado e a ditadura
militar, responsável pelos crimes mais degradantes e hediondos e violadora dos
mais elementares direitos humanos.
O presidente Obama e seu par
argentino Macri percorreram o memorial em que se recordam os 30 mil
desaparecidos durante da ditadura cívico-militar que está cumprindo 40 anos.
Durante a coletiva de imprensa, ambos destacaram a desclassificação de arquivos
que informam sobre a relação de Washington com o golpe de Estado de 1976, no
entanto evitaram em qualifica-lo dessa maneira.
Durante seu discurso, o
presidente norte-americano se referiu a “incômodas verdades” sobre feitos
“cometidos por nossos líderes” durante a década de 1970 tanto na Argentina como
em vários países latino-americanos, porém evitou mencionar uma relação direta
entre eles.
“Sei que existem polêmicas sobre
as políticas dos Estados Unidos nesses dias obscuros. As democracias devem ter
o valor de reconhecer quando não se está à altura dos ideais que defendemos,
quando tardamos em defender os direitos humanos. Esse foi o caso da Argentina”,
observou.
Destacou a desclassificação em
2012 de “arquivos militares e de inteligência” de Washington sobre a ditadura
argentina e ponderou o novo ciclo de descalssificações autorizados “após o
pedido do presidente Macri. Na verdade, Macri nunca autorizou nada, foram os
organismos de direitos humanos os que insistentemente e ao longo do tempo
fizeram os pedidos às sucessivas administrações da Casa Branca.
“A memória, a verdade e a justiça
são vitórias que vamos seguir defendendo todos os dias”, afirmaram a Avós da
Plaza de Mayo e outras diversas entidades em documento lido por ocasião do 40º
aniversário do golpe militar, ante uma multidão de mais de 100 mil pessoas que
lotaram a Praça da Maio e arredores.
E como os temas atuais nunca são
deixados de lado, acrescentaram um parágrafo exigindo a renúncia do ministro da
Cultura, Darío Lopérfido, quem pôs em dúvida o número de 30 mil desaparecidos,
dizendo que esta cifra foi fixada num arranjo a fim de cobrar subsídios.
Advertiram também sobre um “duplo
discurso” do governo Macri, porque fala da continuidade dos processos contra os
repressores porém ao mesmo tempo “despede trabalhadores do sistema judicial que
os garantem.” No mesmo sentido, recordaram que no Parque da Memória, ao lado de
Obama, Macri discursou, insinuando a teoria dos dois demônios ao pedir “nunca
mais a violência política e institucional”.
Em outro trecho, se valorizou o
anúncio da desclassificação de arquivos secretos vinculados com a ditadura,
anunciada por Obama.
“A 40 anos do golpe genocida, nos
sentimos novamente convocados a defender a democracia”, leu a presidenta de
‘Abuelas de Plaza de Mayo’, Estela de Carlotto. Ela afirmou que o “novo governo
está significando no dia a dia a vulneração dos direitos”. Por último, a
presidenta da ‘Madres de Plaza de Mayo’, Taty Almeida, expressou o
repúdio “às tentativas de desqualificação das democracias latino-americanas.
Abraçamos o povo do Brasil em defesa da soberania popular. Vamos por Maduro na
Venezuela, por Evo na Bolívia, por Dilma no Brasil. As corporações e as
oligarquias não têm fronteiras. Vamos por nossa liberdade e nossos direitos.
Sem direitos não há democracia”.
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